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O Silêncio de “Chico”

  • Foto do escritor: Mário Alves.'.
    Mário Alves.'.
  • há 6 dias
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 5 dias




Na manhã em que o mundo despertou com a notícia da morte do Papa Francisco, (o qual carinhosamente pela sua ligação com o povo tomo a liberdade de chamar de “Chico”), o sino da Basílica de São Pedro badalou mais baixo, como se até o metal conhecesse a medida do luto. Não era só o adeus a mais um pontífice; era a despedida de um personagem que, com todas as suas contradições, ousou pisar em terrenos que muitos evitaram.


Posso dizer, que meio, que um xará, Jorge Mario Bergoglio, o papa que veio "do fim do mundo", como ele mesmo disse em sua primeira aparição na sacada do Vaticano, entrou para a história com a leveza de quem não buscava glória, mas com o peso de quem sabia que cada gesto seu seria escrutinado pelos olhos do mundo e pelos olhos da eternidade.


"Chico" não foi perfeito, mas que é? Contudo, foi profundamente humano. Dentro do possível fez uso da simplicidade, recusou sapatos de luxo e preferiu os corredores dos hospitais aos salões palacianos. Defendeu minorias, visitou favelas, lavou os pés de detentos e insistiu, contra as tempestades internas da instituição, em lembrar que a misericórdia era mais importante do que o julgamento. Seus gestos institucionais, como a reforma da Cúria e os esforços por maior transparência financeira no Vaticano, mostraram coragem diante de um sistema muitas vezes enevoados e impenetráveis.


Foi um papa de portas entreabertas, e por isso, às vezes, criticado tanto por conservadores quanto por progressistas. Seu esforço em se aproximar de outras religiões foi sem sobra de dúvidas o seu maior legado. Com os muçulmanos, os judeus, os budistas e tantas outras tradições de fé, “construiu pontes onde havia muros”. Dialogou com imãs, rezou com rabinos, abraçou líderes espirituais orientais. Mais do que ecumenismo, praticou o encontro. Nesse sentido, “Chico” não apenas conduziu a Igreja, mas procurou paz com maior parte do mundo.


No entanto, sua coragem teve limites. Talvez o tempo, talvez a pressão interna, talvez o medo de romper a tradição, ou simplesmente exerço de prudência, o impediram de dar passos mais ousados em direção à reconciliação histórica entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Um gesto seu poderia ter quebrado séculos de desconfiança mútua, ressignificando dogmas, reinterpretando passagens, olhando nos olhos uma instituição que, apesar das diferenças, compartilha valores de como amor, felicidade, liberdade, fraternidade e caridade. Ali, “Chico” hesitou. E na hesitação, a história perdeu um capítulo que poderia ter sido escrito de modo glorioso.

Ainda assim, é impossível ignorar seu impacto social. "Chico" falou dos pobres com a propriedade de quem andou entre eles. Denunciou a desigualdade, o consumismo desenfreado, a destruição do planeta. Seus escritos oficiais não foram apenas textos religiosos, mas manifestos humanitários. Ele incomodou. Como todo líder revolucionário incomoda. Agora, com sua morte, o trono de Pedro está vazio, mas suas pegadas permanecem no chão das periferias do mundo. O silêncio de “Chico” ecoa mais alto do que muitos discursos. Ele partiu como viveu: com humildade, deixando para trás dúvidas, inspirações e a eterna inquietude de quem ousou sonhar uma Igreja mais próxima do Evangelho do “carpinteiro” de Nazaré.


Descanse, "Chico". Que as portas que você apenas entreabriu, outros tenham a coragem de escancarar.

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